quarta-feira, 25 de julho de 2012


O BRITADOR



            O Jeep Willis do exército passava pontualmente às 5h45m, quando o dia mal acabara de nascer. O motorista era o sargentão Valdomiro, gaúcho, que já tinha avisado: “Se você não estiver na hora que eu passar você fica “tchê”, ou terá que ir na caçamba”, junto com a peãozada! Nos meus 17 anos não podia nem pensar em perder aquele emprego. A velha pedreira de Sto. Antônio ficava cerca de 11 km do centro de Porto Velho.

 
            Minha função era anotar a produção das pedras que o britador quebrava e que era embarcada em caminhões ou caçambas. Além disso, eu era o responsável também pelo depósito de guarnição de explosivos (TNT) e de gêneros alimentícios. Como trabalhador civil passava o dia todo naquele acampamento destacado do exército (5º Batalhão de Engenharia e Construção 5º Bec). Havia lá cerca de 30 a 40 homens que trabalhavam duro: quebravam pedra literalmente! Bem cedo as marteletes já est
avam roncando, com sua brocas penetrando nas rochas como se fosse um estupro! No final da tarde, um dos “especialistas” colocava as dinamites com seus estopins interligados em série e ateava fogo! Antes, porém acionava a sirene que, espalhafatosamente, se fazia ouvia a quilômetros de distância e até mesmo do outro lado do rio madeira, além da cachoeira. Ninguém devia estar por ali, desprotegido, quando a explosão ocorresse e centenas de pedras voassem estilhaçadas pelos ares, caindo em qualquer lugar: um acidente poderia ser fatal! Todo cuidado era pouco! Após a explosão, no final da tarde, voltávamos todos para casa. No dia seguinte, o trabalho era manual, quebrando as pedras em pedaços menores e carregando as pás carregadeiras que, por sua vez, carregavam as caçambas.

            Estas subiam à rampa e despejavam suas cargas no britador que começava a moer as pedras com voraz apetite.

            Ali então, embaixo do britador, iam se formando pequenas montanhas de pedra britada, as quais, posteriormente eram transportadas para o asfaltamento de ruas, rodovias e tantas outras obras na cidade. De todos aqueles companheiros que ali trabalharam, alguns ainda povoam até hoje minha lembrança: “Seu” Zé, que dizia ter pertencido ao bando do Lampião!... O Mineirinho, um negro que se dizia ainda “virgem” aos 25 anos e andava com uma bíblia embaixo do braço. Era o encarregado oficial de acender os estopins para a grande explosão. O neguinho, O “Arigó” sempre com seu facão, os cabos Quaresma e Mendes,  o motorista civil  "Calango", etc.

            Como passa o tempo!...  E passa de forma inexorável! Hoje, tantos anos já se passaram e às vezes, sozinho na sacada do meu apartamento, nas noites chuvosas, quando as nuvens estão carregadas e os relâmpagos e trovões começam a riscar a escuridão e ribombar no céu, olho naquela direção da antiga pedreira de Sto. Antônio e, estranhamente, com o olhar perdido e úmido tenho a impressão que o “nêgo” Mineirinho está tocando fogo nos estopins e que, centenas de pedras estão voando pelos ares, lá na velha pedreira.

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