terça-feira, 14 de maio de 2013


ASSÉDIO SEXUAL
                                                                           Samuel Castiel Jr.
 
       Ela trabalhava na Lanchonete Lisboeta, cujo proprietario era um português de bigode grande e cheio! Quando foi admitida, o português foi logo demonstrando sua queda pela cor negra! Ao sorrir, Glauce exibia dentes brancos e perfeitos que contrastavam com com sua pele negra! Seus cabelos eram bem curtos, pois não gostava de fazer prancha e nem podia pagar por isso! Porem, de todos os seus  dotes, o que mais chamava atenção do Joaquim eram as pernas e as coxas de Glauce! Grossas e parecendo torneadas! Chegava a se policiar para não ficar olhando sua bunda quando ela por ele passava no estreito corredor da lanchonete  e se esticava toda para guardar os kibes e bolinhos de bacalhau na prateleira da vitrine. Era demais! – dizia ele. Viúvo de sua esposa, estava prestes a dar uma cantada na Glauce e, quem sabe, levá-la pro motel. Mas tinha receio de ser mal interpretado! Sabia de estórias de patrões que foram denunciados por assédio sexual, muitas vezes injustamente! Precisaria ter muito cuidado, muita cautela, ser um “gentleman”! Os meses foram se passando e só aumentando ainda mais o tesão do Joaquim  pela neguinha Glauce!...Não sabia o que fazer! Até sonhava com a Glauce na sua cama, envolta em seus lençóis brancos, após uma noite de amor e loucuras! Deveria ser um vulcão na cama aquela neguinha! E por aí a intenção do Joaquim descambava. Até que, não agüentando mais, chamou a Glauce e disse-lhe:

-- Seus kibes e bolinhos de bacalhau são deliciosos e estão tendo boa aceitação pelos fregueses! Acho que vou pagar umas horas-extras pra você chegar mais cedo e fazer uma quantidade maior dessas delícias! Topas, ô gaja?

         A Glauce topou! Chegava as 05:30 h e quando a lanchonete abria as 8:00 h, já tinha dobrado a produção dos kibes e bolinhos de bacalhau. Joaquim fingia conferir dinheiro e fechar um caixa que nunca fechava e fazia algumas anotações. Mas, na realidade, ficava de olho na Glauce! Devia ter um vulcão entre as pernas! – pensava o portuga. Quando ela ia guardar os kibes e bolinhos, ele se aproximava dela por trás e a ajudava colocando as bandejas  nas prateleiras mais altas. Quando seu corpo tocava nela, sentia uns arrepios vibrantes que lhe percorriam a espinha e explodiam em seu sexo! E a cada dia o seu desejo ficava mais incontrolável! Foi então que seu mundo caiu quando conheceu o namorado da Glauce:  era um negão bem alto, musculoso e mal encarado. Talvez já desconfiando das intenções do portuga, o negão passou a ir levá-la e buscá-la da lanchonete.  Joaquim ficou deprimido, pensando que todo aquele seu sonho de consumo, já tinha dono! E era um cara muito feio para o  seu gosto! As vezes tinha pesadelos com aquele negão apontando uma arma para ele! Acordava assustado, molhado de suor!

            Um dia resolveu que aquilo não poderia mais continuar. Seria tudo ou nada! Chegou bem cedo na lanchonete, esperou a Glauce chegar, acompanhada de seu negão, esperou ele se despedir e ir embora. Quando a Glauce  passaou pelo corredor por trás do caixa, para guardar os kibes e bolinhos na prateleita da virtine, ele se virou e a agarrou pela cintura, puxando-a de encontro ao seu corpo. Glauce atônita, sentiu os braços fortes do portuga, mas também seu membro duro, roçando em suas coxas!

-- Que é isso Seu Joaquim! O senhor ficou louco! Me solte agora, está me machucando! Alguns kibes e bolinhos caíram no chão mas ela conseguiu colocar a bandeja sobre a mesa. O portuga continuava a puxá-la pela cintura.

-- Sim gaja, tô louco mesmo mas é por você! Desejo você! Não agüento mais!...

-- O senhor sabe muito bem que eu sou compromissada! Vivo com o Damião que me ama, é ciumento, anda armado e já tá desconfiado do senhor! Me solte ou eu vou gritar!

-- Você não vai se arrepender Glauce! Vou te dar tudo que você nunca vai ter se continuar com esse negão!...

-- Eu gosto dele! E tem mais: não sou nenhuma vagal como você pensa! Me solte logo ou eu grito! Alguem que passe na rua há de ouvir!

    Nisso, entrando pela porta dos fundos, surge o nêgo Damião, que já desconfiado do portuga, ficara escondido atrás da lanchonete, esperando o momento certo para entrar. Quando viu a cena de sua a amada agarrada pelo português que tentava beija-la, foi logo partindo pra cima com um 38 engatilhado. Colocou o cano do revolver em sua cabeça:

-- Você é um  homem morto, portuga!

-- Não faça isso! Eu posso explicar! Apenas puxei a Glauce pela cintura pra que ela não escorregasse na poça dágua aqui no chão!

    A pobre da Glauce, pálida  como uma cera, soltou-se do Joaquim e quase histérica gritou:

-- Ele tá louco, Dâmi! E essa poça dágua que ele falou não existe! Além disso, o que eu senti foi algo bem duro que ele insistia em esfregar nas minhas coxas!

-- Você é um homem morto português! Trate logo de explicar  esse negócio duro que você esfregou na minha Glauce. Caso contrario, você vira presunto agora!

-- Calma Seu Damiãozinho! Eu posso explicar tudo! Foi só um mal entendido! O que ela sentiu era apenas um kibe que eu tinha guardado no bolso pra comer mais tarde, sabe?! É que eu sinto muita fome tarde da noite!...

-- Então me mostra agora esse kibe portuga, caso contrario eu juro que vou estourar teus miolos!

-- Desculpe Seu Damiãozinho,  mas o kibe esfarelou!

    Nisso o portuga consegue empurrar o negão e se livrou também da arma em sua cabeça. Mesmo assim, ainda ouviu dois disparos que não acertaram o alvo! O portuga escapou correndo pra rua e pulando dois muros altos, driblando cachorros ferozes, como se fosse um tri-atleta!

    No dia seguinte um aviso na porta da lanchonete, em letras garrafais, anunciava: “ VENDE-SE POR MOTIVO DE VIAGEM “

     Até hoje ninguém sabe o rumo que o portuga tomou! Nem o motivo de sua viagem súbita. Apenas algumas beatas amigas da igreja que ele freqüentava, comentam que ele Joaquim foi mais uma vítima do ditado popular segundo o  qual  “nenhum português resiste a uma azeitona preta! “
                                                                                                                        PVH-RO, 13/05/13

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