sábado, 27 de julho de 2013

AMOR BANDIDO

Samuel Castiel Jr.







          





       Ele não acreditou quando ela foi embora. Chegou do trabalho e não mais a encontrou. Nenhum bilhete, nenhum aviso, nenhum papel de pão, nada! Nem mesmo um rabisco de batom no espelho do banheiro avisando que partiu. Nada mesmo!  Só teve a certeza do adeus  pelas suas roupas, sapatos e demais pertences que haviam sumido, deixando seu guarda-roupa vazio.  Ficou triste, entrou em depressão. Amava aquela mulher! Ela representava tudo para ele. Tá certo que gostava da boemia, chegava as vezes tarde da noite, mas traí-la, nunca! Tá certo que ela já o tinha avisado:  caso  continuasse levando vida de solteiro, ela iria embora. Mas ele não se conformava! Com o passar dos dias foi ficando cada vez mais triste. Já não comia direito, tinha saudade dos bifes de fígado acebolado que a Juju lhe preparava no almoço. Não esboçava nenhum sorriso sequer. Os dias passando, nenhum telefonema, nada! Esse silencio para ele tornava-se  cada vez mais torturador, cruel. Começou então a procura-la em todos os lugares possíveis e impossíveis. Na repartição informaram-lhe que ela havia tirado férias. As irmãs disseram-lhe que Juju tinha viajado e não sabiam nem pra onde. Tinha realmente sumido. Com o passar dos dias resolveu escrever uma carta para entregar-lhe quando a encontrasse ou soubesse de seu paradeiro. Nessa carta ajoelhava-se, pedia perdão e jurava abandonar a vida boêmia, caso sua Juju voltasse para ele. Prometia que pelo menos duas vezes por semana traria shashimi de salmão, que ela tanto gostava. Prometia também que a levaria toda sexta-feira para dançar no Mandacaru. E tem mais, caso saísse sua gratificação de venda, compraria até mesmo o seu carro zero! Mas a carta ficou engavetada por muito tempo! Até que um dia soube que sua amada Juju voltara das férias e já tinha até retornado ao trabalho. Imediatamente foi até lá e deixou sua carta cheia de humilhações e arrependimentos. Duas semanas se passaram e não houve nenhuma resposta, nenhum sinal da parte da Juju. Ansioso, foi outra vez procurá-la na repartição. Jucirema não o recebeu, mandou apenas ameaçá-lo de chamar a polícia caso ele continuasse a importuná-la. Ficou chocado com a frieza de sua amada. Foi então que teve a ideia de contratar um advogado para reaver tudo que havia dado a Juju: joias de ouro 18 kilats, colares de pedras preciosas, anéis magestosos, etc.
--Ainda tem mais doutor: quero que me devolva também a quantia de cinco mil reais que ela me pediu emprestado na véspera de “vazar” de casa!  Deve até ter usado meu dinheiro pra viajar, quem sabe com um “Ricardão” qualquer?!...
   Tudo certo, o advogado entrou na Justiça junto a Vara da Familia, pedindo a restituição de bens valiosos que a Jucirema teria levado, quando abandonou aquela união estável. Pedia também que devolvesse os cinco mil reais que lhe foi dado a título de empréstimo.
    Marcada a primeira audiência de conciliação, Joventino ficou eufórico, pois havia uma expectativa--quem sabe?, até de uma possível reconciliação.
     No dia da audiência,  lá estava ela linda e sensual como sempre. Mas sua fisionomia estava séria e tensa.
--Tadinha --pensava Juventino. Estava até arrependido mas não encontrou outro jeito de tentar uma reaproximação com a sua amada Juju.  Quem sabe na frente do “capa-preta”?
    Quando a juiza de conciliação pediu que Jucirema se manifestasse, ela disse:
--Olha aqui, dotora:  as joias que esse aí me deu foi presente e presente não devolvo não! Quanto aos cinco mil reais,  isso aí eu até concordo! Apesar de que no momento que eu pedi tava só eu e ele. Então seria a palavra dele contra a minha! Não é mesmo?  Mas tudo bem.
    Tirou da bolsa um pacotinho de dinheiro amarrado numa liga elástica e jogou na mesa:
--Taí seu dinheiro!
   Joventino com  cara de bôbo desconsolado, olhando para a Jucirema como se estivesse em transe, perguntou-lhe:
--Não vai fazer falta pra você, Juju?
--Pra falar a verdade vai sim , Jô!  E você sabe disso! Principalmente agora que voltei de férias, sabe como é!  Mas...
    Pegando o dinheiro e devolvendo para a Jucirema, ele diz:
--Pode ficar então, Juju! Agora, como as joias, também é um presente pra você!
   A juíza de conciliação e os advogados se entreolharam. Foi lavrado um Termo de Reconciliação. Era mais um caso de amor bandido. A sessão foi encerrada.


PVH-RO, 27/07/13

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