quarta-feira, 16 de outubro de 2013

ASSALTO AO BANCO DO BRASIL

ASSALTO AO BANCO DO BRASIL

Samuel Castiel Jr.


















          Hidemburgo havia sido transferido de Maceió como gerente da mais nova agencia do Banco do Brasil em Porto Velho, Rondonia. Além da árdua missão de administrar a nova agencia, tinha um outro problema que era o de adaptação sua e de sua família, pois deixara uma capital litorânea beijada por um mar de águas azuis, com os ventos constantes agitando os coqueirais, e agora estava numa cidade de clima quente, em plena Amazônia tropical.
          Com o passar dos meses, Hindemburgo aos poucos foi se adaptando a nova realidade. Ao contrario, sua esposa sempre reclamava do clima inóspito da cidade, bem como da violência. Soubera que a construção das hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio madeira acabou atraindo ladrões e assassinos profissionais de outras regiões do país,  aumentando significativamente os índices da violência no Estado. Tinha um casal de filhos adolescentes, já se preparando para o curso superior. Como estava acostumado a caminhar na orla em Maceió, Hindemburgo todo dia fazia suas caminhadas ao sair do Banco no final da tarde. Costumava andar pelo menos uns 6 km, voltando já a noite para casa. Tinha esteira em sua casa, mas preferia caminhar na pista, a não ser quando chovia naquele horário. Nesse dia, ao chegar de sua caminhada e abrir o porão automático da garagem, foi surpreendido por dois assaltantes que puseram o revolver 38 em sua cabeça. Ordenaram que entrasse e fechasse o portão, antes porém fizeram entrar também mais cinco homens e uma mulher, todos encapuzados.  Aí começou uma longa noite de terror e sofrimento pra toda a família. Juntamente com sua  esposa foi amarrado, com olhos e boca vedados por vendas e fitas adesivas, mãos e pés imobilizados. Foram presos num quarto da casa e, quando seus filhos chegaram tiveram o mesmo tratamento e o mesmo destino.
--Quem são vocês? O que querem de mim? –perguntava Hindemburgo muito nervoso.
--Não vamos te fazer mal algum se  colaborar com a gente –dizia um dos assaltantes que devia ser o chefe do bando. Só queremos que você vá conosco até a sua agência e abra o cofre. O resto é por nossa conta!
--Vocês ficaram loucos? Jamais faria isso, e mesmo que fizesse não conseguiria abrir, pois o cofre tem um sistema de abertura programado para determinadas horas. Ninguém sabe o segredo, tudo funciona automaticamente. Existe um “timer” que controla o tempo de abertura e de fechamento.
--Fique tranquilo, senhor Hindemburgo! Nós já sabemos como tudo funciona! Sabemos também que existe um código de emergência, que faz o cofre se abrir como se fosse uma varinha de condão!...E sabemos também que só o gerente é que tem esse segredo. Portanto, você precisa colaborar com a gente, caso queira viver e ainda ver sua queridinha família. Aliás, que mulher gostosa essa tua, cara!...
--Não toque nela seu infeliz!
--Calma! Você tá muito bravo pra quem tá na tua situação. Quem manda aqui agora sou eu! Mas eu juro que não vou tocar nela caso você colabore com nosso plano. Caso contrário, eu juro que vou tirar as vendas dos seus olhos só pra você ver como se estupra uma vadia como essa! Portanto, trate de colaborar. Vou fazer  rapidamente um resumo do nosso plano e trate de absorvê-lo, pois não costumo repetir as coisas que já falei. Vamos ficar instalados aqui nessa sua casa até as 6:00 h da manhã, quando eu, você e mais uns três amigos iremos ao Banco. Você se identifica e pede pro vigilante deixar você entrar, pois tem que pegar uns papeis que esqueceu e está indo pro aeroporto viajar. Na sequência nós entramos, rendemos o vigilante, vamos até ao cofre e você digita seu código de emergência. Quando a porta se abrir, nós teremos 5 minutos pra fazer o limpa. Sabemos que o dinheiro está todo arrumado em pacotes com notas de cem e de cinquenta reais. Os pacotes com as notas menores não nos interessam, pois além de mixaria, vão fazer muito volume.
          Enquanto ele falava, Hindemburgo ficou pensando como ele poderia estar sabendo até da arrumação do dinheiro? Naquela exata sexta-feira o Banco estaria fazendo o pagamento de parte dos funcionários do Governo do Estado.
--Nós vamos ser muito rápidos, tirar o que for possível e vazar do Banco sem deixar nenhuma pista –continuava o chefão encapusado. Lá fora, para não chamar a atenção de ninguém, vamos estar estacionados com um carro forte, que já foi providenciado. Enquanto isso você vai ser bonzinho, pois sua família vai estar aqui na sua casa esperando por você. Qualquer tentativa de fuga ou de desobediência, mataremos sua mulher e seus dois filhos. Entendeu, seu abestado?
          Enquanto o assaltante falava, os outros estavam postados com as armas em punho. A mulher, acompanhada de dois comparsas começaram a entrar nos outros aposentos e revirar tudo que encontravam. Mas, mesmo sem ter nenhuma visão, pois estavam com os olhos vendados, um pequeno detalhe chamou a atenção de Viviane,  esposa do Hindemburgo, que era enfermeira: entre os assaltantes que se moviam no interior da casa, havia um deles que tinha uma tosse seca irritante, um pigarro próprio de fumante crônico e inveterado: cof...cof...cof... Pensou que aquele maldito não teria muito tempo de vida, pois talvez já tivesse até um câncer de pulmão ou de laringe.
--Como vê, meu caro Hindemburgo, nossa noite vai ser longa. Precisamos de comida e bebida, pois teremos ainda muito tempo até o amanhecer. Quero avisar a todos vocês que as câmaras e os telefones, inclusive os celulares já foram cortados e destruídos. Portanto, tentem se adaptar e rezem pra dar tudo certo, Ok?! Pessoal, vamos nos revezar nessa vigília, pois eu acho que vou ver um pouco de TV. Ou melhor: você tem algum filme pornô, Hindemburgo? Quero ficar bem atento e excitado, pois caso algum de vocês  tente nos enganar, vou ter que estuprar primeiro essa mocinha linda e depois a coroa. Onde está seu whisky, cara? Pega lá, ô Minhocão! E traz gelo também. Serve pro resto da rapaziada. Coroa, onde tem um tira-gosto pra gente salgar a boca, hem?
--Procure na geladeira seu miserável! Gostaria de ter colocado veneno nessa comida pra matar vocês todos!
--Calma, Dona Coisinha! Só queremos um tira-gosto!
            E foi assim que a noite foi passando, parecendo uma eternidade de horrores e ameaças pra toda a família. Beberam, comeram deitaram nas camas e nas poltronas da casa, viram TV e DVD até que chegou o momento crucial. Eram 5:30 h. Pegaram o Hidelbrando e o levaram até a varanda da garagem. Antes de o colocarem no carro, fizeram outra revista rigorosa na roupa e em todo seu corpo. Postaram-se em três no banco de trás, tiraram sua venda e o chefe do bando ordenou:
--Chegou a hora, meu caro! Dirija com muito cuidado até o Banco, pois atrás de você tem uma pistola com silenciador, sem contar que sua família está muito bem guardada!
          Como estava previsto, o gerente Hindemburgo fez com que o vigilante abrisse a porta dos fundos do Banco e enquando ele entrava na agência, o vigilante foi rendido, recebeu uma coronhada na cabeça, ficando amarrado, com venda nos olhos e fita adesiva na boca. Foram todos rapidamente para o cofre, como se fossem habituais frequentadores do Banco. Hindemburgo sempre empurrado ia na frente, ameaçado pela pistola do assaltante-chefe.
--Vamos, vamos, seu palerma! Não temos todo o tempo do mundo. Lembre-se que se tentar atrasar sequer nossa operação, nunca mais verá sua família.
          Hindemburgo inseriu a senha de emergêngia e esperou alguns segundos. A pesada porta de aço foi girando a coroa do segredo, algumas luzes amarelas e verdes se acenderam, ficando acessas apenas as verdes e, a seguir, houve um estalido metálico e a grande porta então se abriu. Quando foi puxada pelo assaltante-chefe, mostrou o interior do cofre repleto de blocos e blocos de cédulas de reais. Imediatamente o homens do bando começaram uma frenética retirada dos blocos de cédulas de cinquenta e de cem reais, jogando-as dentro de sacos apropriados que tinham trazido e rapidamente levadas para o carro-forte estacionado nos fundos do Banco. Em cinco minutos conseguiram tirar vários sacos de dinheiro que eram jogados pra fora do cofre enquanto outros assaltantes corriam com eles para alcançar o carro-forte. Após os cinco minutos, a grande porta produziu um “clic” metálico e começou a se fechar. Hindemburgo que já estava novamente amarrado e de olhos vendados, foi arrastado para traz do gigantesco cofre, enquanto os assaltantes ganhavam a rua e fugiam em três carros diferentes. Eram profissionais, não foi necessário disparar um tiro sequer! Os familiares do gerente ficaram amarrados, porém livres dos assaltantes que fugiram assim que receberam uma ligação pelo celular.
          O assalto ao Banco do Brasil foi amplamente coberto pela mídia local e nacional. A polícia militar e a polícia federal entraram de cabeça nas investigações, com seus serviços de inteligência. Foram fechadas todas as barreiras e saídas da cidade, pelo ar, por terra e fluvial. Ninguém poderia escapar daquele cerco. O Chefe do Serviço de Inteligência da Policia Federal estava furioso. A movimentação no seu gabinete era intensa, o telefone não parava de tocar.
--Alô, coronel. Sim já estamos com todas as barreiras fechadas. Quero uma relação de todos os funcionários daquela agência, com seus respectivos tempos de serviços. Vou ouvir agora o gerente e todos de sua família. Só depois poderemos ter uma linha de ação.
         O depoimento de Hindemburgo e de sua família, não tinham quase nada que pudesse ser usado para formular um raciocínio lógico, a não ser o detalhe que sua esposa relatara e que consistia no fato de que um dos assaltantes tinha uma tosse seca e irritante, que vinha em acessos e que demorava para se acalmar. Nada mais de relevante podia ser considerado. Outras oitivas cansativas foram feitas naquele dia, mas nenhuma delas se mostrou consistente ou importante.
           O relatório com nomes dos  funcionários foi minunciosamente estudado. Havia  pessoas desde simples vigilantes, serventes e “ofice-boys” até contadores, gerentes e consultores. Alguns foram ouvidos aleatoriamente mas nenhum mostrou-se suspeito. Não havia pistas dos assaltantes. 
                 Os dias foram se passando até que o Inspetor da Inteligêngia e Segurança da Policia Federal, pediu ao Banco uma outra relação de funcionários. Ele queria dessa vez uma relação dos ex-funcionários, ou seja, os que foram demitidos ou pediram para sair do Banco e também daqueles que se aposentaram nos últimos cinco anos. Dessa análise, com os endereços checados, despachou vários agentes para “visitar” pessoalmente essas pessoas, colhendo informações. Mas, o seu faro dizia que aquele nome Max Juliano, aposentado do Banco a quase cinco anos, precisava ser visitado pessoalmente por ele. Morava num sítio a mais ou menos uns 20 Km da cidade.
             Max Juliano, de 70 anos, era um homem solitário, morava sozinho naquele sítio. E, naquela manhã acordara feliz! Espreguiçou-se, levantou cantarolando, agachou-se e  puxou uma tabua falsa do assoalho, embaixo de sua cama.  De joelhos, tirou de lá um saco cheio de notas verdinhas de cem. Jogou algumas notas pra cima e as aparou com suas mãos bem abertas. Algumas notas se espalharam pelo chão. Nisso ouviu batidas fortes na sua porta. Quem seria? Imediatamente juntou e escondeu novamente as notas sob a tabua falsa, em baixo de sua cama. Quando abriu a porta, era o Delegado Inspetor da Polícia Federal.
--Bom dia seu Max! Posso entrar? Meu nome é Charles, sou da Policia Federal.
          Mostrou-lhe seu distintivo de policia, com o Brasão da República.
--Claro, delegado. Pode entrar. Não repare a casa está muito desarrumada. Sabe como é, vivo sozinho, minha mulher foi embora já faz alguns anos. Ninguém mais dá importância pra esse velho. Em que posso lhe ajudar?
--O senhor foi funcionário do Banco do Brasil?
--Sim, mas já estou aposentado a alguns anos. Vida dura aquela do Banco. Mas até que eu gostava!
--O senhor sabe que aquela sua agência do Banco foi assaltada?
--Sim. Vi pela televisão. Levaram uma grana preta, não foi?
--Levaram muito dinheiro sim! O senhor tem alguma informação que possa ajudar as investigações?
--Infelizmente não, Delegado! Faz tempo que não passo nem perto daquela agência.
           Charles ainda adentrou pelo quarto e foi até a cozinha, mas nada de suspeito encontrou, a não ser desarrumação.
--Ok! Caso o senhor se lembre de alguma coisa que possa ajudar, aqui está o meu cartão com o meu telefone.
             Quando  o Delegado já estava na porta saindo, ouviu um acesso daquela tosse seca e irritante. Voltou-se rapidamente e encarou  o aposentado:
--Cof...Cof...Cof...


PVH-RO, 15/10/13

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