quinta-feira, 6 de março de 2014

CONCURSO DE PIMENTA

CONCURSO DE PIMENTA

  Samuel Castiel Jr.















      Na Bahia a vendedora de acarajé pergunta se o freguês quer comer a guloseima quente ou fria. Caso queira quente, ela entorna o vidro de pimenta até o molho escorrer para fora da comida. No vatapá é a mesma coisa, bem como no tacacá ou maniçoba em Belém do Pará. O critério de quente ou frio é dado pelo ardor da pimenta. E a variedade de pimenta é muito grande em todo o Brasil. Umas são importadas outras nativas. E dependendo da região do país, são mais ou menos ardentes. Outras são apenas cheirosas, sem nenhum ardor, tipo o pimentão. E cada tipo de pimenta se presta para determinada comida, sendo umas mais apropriadas para carnes vermelhas enquanto  outras para caldos, sopas, molhos cremosos, frutos do mar,  peixes ou frangos. Algumas são usadas até mesmo em coquetéis. Entre as mais conhecidas podemos citar a pimenta malagueta, murupi, pimenta do reino, Cambuci ou chapéu de frade, pimenta cumari, pimenta dedo-de-moça, pimenta habanero (originária do caribe e costa norte do Mexico, sendo a primeira pimenta a ser cultivada pelos Maias). Temos ainda a Jalapeno, originária do Mexico, pimenta da Jamaica, pimenta de Bode, pimenta de cheiro, pimenta Tabasco, do Chile, etc. E por aí vai, com uma variedade muito extensa dessas frutinhas queimantes. Mas de todas elas, a mais temerosa de todas segundo o Guiness Book é a chamada pimenta Bhut Jolokia, tida como a pimenta mais forte do mundo, pois atinge o grau máximo na escala de scoville, que mede a ardência das pimentas. Pra se ter uma ideia, é altamente recomendável que se use luvas no manuseio dessa pimenta.
          Jocardêncio era um baiano de Jequié, amante das pimentas. Comprou terras e mudou-se para Rondônia, onde aventurou-se na pecuária de corte, possuindo grandes  fazendas em terras férteis para o pasto, na região de Jaru. Mas nunca deixou de possuir um amor todo especial pelas pimentas. Comprava livros,  vídeos e assistia todos os documentários onde buscava ávido aprimorar seu conhecimento sobre as pimentas. Tinha uma plantação só de pimenta que era cuidada por ele próprio. Comprava sementes de todas as regiões do Brasil e também do exterior. Tornou-se um expert na arte de pimentas e molhos.  Cansado de montarias e gado, resolveu um dia promover um festival de pimenta, onde foi marcado concomitantemente um Concurso de Pimenta, cujo objetivo era medir o grau individual  de tolerância para a ardência das pimentas. O vencedor ganharia uma viagem de ida e volta para o Oriente Médio, com direito a acompanhante. Tudo foi bem planejado e divulgado com bastante antecedência. Vieram pessoas de varias regiões e estados do País. Os participanres foram divididos em cinco grandes grupos. Os jurados foram escolhidos pelo próprio Jocardêncio e todos eram pessoas entendida e experts em molhos e pimentas.
           Foram iniciadas as provas, que tinham um juiz em cada grupo. As regras foram bem divulgadas para todos. A provas consistiam em cada grupo provar as varias espécies de pimentas, começando pelas mais fracas e atingindo o ápice com as mais fortes e mais ardentes. Quem esboçasse pelo menos uma careta ao provar determinada pimenta, estaria desclassificado. Havia garrafas de água mineral em cada mesa, que serviam para lavar a boca dos concorrentes após cada prova. Aos pouco os grupos foram ficando menores, a medida que iam sendo desclassificados os pimenteiros. Na última prova, restavam apenas dois concorrentes, cara a cara.
O juiz de mesa pegou a garrafa de molho, derramou um pouco na colher e disse: -- Essa é a Buth Jolokia, a mais queimante de todas. Quem passar por ela será o grande campeão! Jocardencio pegou a colher e entornou em sua boca, sem esboçar nenhum gesto ou careta. Manelzinho Ardido disse: --Não quero com molho. Estendeu a mão e pegou algumas pimentas, levando-as a sua boca e mastigando-as sem nenhum gesto, sem nenhuma careta. Jocardencio imitando seu adversário tambem pegou algumas pimentas, jogou na sua boca e começou a mastigar. Manelzinho Ardido olhando fixamente para o Jocardencio, apontou o dedo para o rosto do adversário e disse:
--Você perdeu. Está chorando.
    Algumas lágrimas rolaram pelo rosto de Jocardencio, que pernecia impassível.
 --Não é derrota ainda!
--E porque está chorando então? Com a voz quase inaudível, disse:
 --É que me lembrei da Santa e Digníssima Senhora Sua Mãe! Com todo respeito, é claro!...
     Fez bochecho com água mineral. O jurado encerrou o concurso. Manelzinho Ardido na semana seguinte viajou para a Jordânia.


PVH-RO, 28/02/14

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