MISTERIO
NO GARIMPO
Samuel Castiel Jr.
A água era escura e
barrenta. A visibilidade não deveria passar de uns dois metros mas foi
suficiente para ver aquele vulto de mulher sem nenhuma roupa de mergulho, ou
melhor, sem nenhuma roupa de nada.Estava absolutamente nua. Olhava-me com um
sorriso malicioso. De repente apontou na direção oposta para onde eu nadava como
se me chamasse. Senti-me atraído e não pude resistir. Nadei em sua direção,
seguindo aquele corpo de mulher nua e sensual, de cabelos compridos e negros.
Quem seria? Havia muitas mulheres naquele garimpo, mas todas elas tinham outras
atividades, como cozinheiras, amantes ou simplesmente vendendo seus corpos. Mas
nenhuma delas tinha aquela silhueta, aquelas formas sensuais. Também nenhuma delas mergulhava aquela profundidade em busca de ouro, muito menos sem
nenhum equipamento... Como se estivesse hipnotizado, continuei nadando seguindo
aquela mulher misteriosa. Quando nos aproximávamos de um barranco profundo, ela
parou e apontou mais uma vez em direção ao barranco e nadou rapidamente até
desaparecer nas águas barrentas daquele rio. Cheguei bem perto do barranco,
cravei meu "abacaxi" no barro e acionei o botão elétrico fazendo
aquela tralha se aprofundar no barro, cavando e ao mesmo tempo aspirando todo o
barro, jogando-o para a superfície, onde toda aquela terra misturada com pedras
iria ser lavada e decantada, sobrando no final do processo só o ouro amarelo em
forma de pepitas ou mesmo como pequenos grãos de areia fina. Depois de mais ou
menos uma hora nesse trabalho, parei e dei sinal para ser içado. Pouco tempo
depois de subir na Balsa, fui surpreendido com a euforia de meus companheiros,
que gritando vieram cumprimentar-me:
PVH-RO, 19/11/14.
--Viva ARTHUR! Vamos "bamburrar"! Pelo jeito
estamos em cima de um filão. É muito ouro, cara!
No garimpo as notícias correm rápido. No dia seguinte, quando o dia mal clareou, nossa balsa estava toda cercada por dezenas de outras balsas e dragas, todos ávidos por mergulhar e também extrair aquele ouro das profundezas do rio, no mesmo filão que eu descobrira, com a orientação, é claro, daquela mulher misteriosa. Garimpeiros experientes começaram a mergulhar bem cedo. Levavam seus equipamentos de mergulho com o tubo de oxigênio e pipetas enfiadas nas suas bocas. Alguns portavam "pés-de-pato". Mas levavam também seus "abacaxis" para perfurar e sugar a barranqueira. Estava assim formada o que eles chamavam de "muvuca". Nesse dia, começaram os mistérios e problemas: dois garimpeiros não mais voltaram de seus mergulhos. Foram encontrados boiando rio abaixo, depois de 2 dias de buscas sem nenhum êxito. Nos dias que se seguiram mais mortes foram contabilizadas. Sempre os corpos boiando rio abaixo. Nos meus mergulhos continuava a ver a mesma mulher que ora apontava para um lado, ora para outro, fazendo com que minha produção de ouro sempre fosse a melhor daquele garimpo. Como aparecia, desaparecia nas águas barrentas. Depois de alguns dias, com as mortes acontecendo, todos os mergulhadores estavam em pavorosa, com medo de mergulhar. Até que um dia um garimpeiro foi içado quase morto. Conseguiu sobreviver, após ser acometido de febre altíssima por vários dias, quando delirou muito, sempre falando de uma mulher que encontrou lá embaixo das águas barrentas.
No garimpo as notícias correm rápido. No dia seguinte, quando o dia mal clareou, nossa balsa estava toda cercada por dezenas de outras balsas e dragas, todos ávidos por mergulhar e também extrair aquele ouro das profundezas do rio, no mesmo filão que eu descobrira, com a orientação, é claro, daquela mulher misteriosa. Garimpeiros experientes começaram a mergulhar bem cedo. Levavam seus equipamentos de mergulho com o tubo de oxigênio e pipetas enfiadas nas suas bocas. Alguns portavam "pés-de-pato". Mas levavam também seus "abacaxis" para perfurar e sugar a barranqueira. Estava assim formada o que eles chamavam de "muvuca". Nesse dia, começaram os mistérios e problemas: dois garimpeiros não mais voltaram de seus mergulhos. Foram encontrados boiando rio abaixo, depois de 2 dias de buscas sem nenhum êxito. Nos dias que se seguiram mais mortes foram contabilizadas. Sempre os corpos boiando rio abaixo. Nos meus mergulhos continuava a ver a mesma mulher que ora apontava para um lado, ora para outro, fazendo com que minha produção de ouro sempre fosse a melhor daquele garimpo. Como aparecia, desaparecia nas águas barrentas. Depois de alguns dias, com as mortes acontecendo, todos os mergulhadores estavam em pavorosa, com medo de mergulhar. Até que um dia um garimpeiro foi içado quase morto. Conseguiu sobreviver, após ser acometido de febre altíssima por vários dias, quando delirou muito, sempre falando de uma mulher que encontrou lá embaixo das águas barrentas.
--Ela estava lá! Era linda, corpo perfeito, cabelos longos e
negros. Chamou-me para nadar com ela e afastou-se levando-me para o canal do
rio, longe da barranqueira. Em determinado momento aproximou-se mais de mim e
rapidamente cortou meu tubo de oxigênio. Quando ia cortar minha corda de
içamento, liguei o botão do "abacaxi" e apontei em sua direção.
Imediatamente ela se afastou e desapareceu nas águas revoltas e barrentas. Fui
içado e estou salvo graças ao meu bom Deus! Escapei por pouco!
Ouvi tudo que aquele garimpeiro contou e não tive dúvida: era
ela! A mesma mulher misteriosa que me levou até aquele filão de ouro. Não
contei nada a ninguém, pois iriam achar que eu estava blefando ou ficando
louco. As coisas começavam a se encaixar. Mas porque aquela mulher misteriosa
matava os garimpeiros? Porque comigo ela foi agradável e levou-me para o filão
de ouro? A noticia se espalhou rapidamente e ninguém mais se atreveu a
mergulhar naquelas águas. Com medo mas muito curioso, depois de alguns dias,
quando as balsas e dragas já haviam deixado aquele local e quando o nosso entorno
já estava livre daquela "muvuca", aproveitei para dar um último
mergulho, pois a noite estava muito clara com uma grande lua que deixava
dourada a superfície do rio. Ao descer a cerca de uns 5 metros, fiquei
apavorado, pois a mesma mulher apareceu na minha frente. Procurei acalmar-me,
pois seu semblante era amistoso e havia em seu rosto o esboço de um leve
sorriso. A lembrança da morte inexplicável de muitos amigos garimpeiros, com
medo daquela silhueta encantadora e fatal de mulher, puxei a corda dando sinal
para ser içado. Imediatamente ela se postou a minha frente e cortou a corda de
içamento. Senti que era chegada a minha vez de morrer...Mas, em vez de
arrastar-me para o meio do rio, como fez com os outros, ficou colada
abraçando o meu corpo, tocou a minha
face com seus dedos, beijou meu rosto e abraçou-me num gesto de afago sensual. Fiquei estático e
arrebatado, tomado de um sentimento de profundo amor! Na seqüência ela
impulsionou-me para a superfície e num gesto de carinho despediu-se com um
aceno de adeus.
Quando cheguei a superfície, meus companheiros estavam em
pavorosa agitação e
gritaria:
--Home, que aconteceu lá embaixo? Pensávamos que seria mais
um morto pra aparecer boiando!...Você é louco? Bem que avisamos o perigo que
iria correr!...
A lua silenciosa e indiferente continuava iluminando como um farol aquelas águas barrentas.
No dia seguinte nossa balsa desatracou e fomos embora com alguns quilos de ouro e eu, com essa lembrança inexplicável que irá comigo até meus últimos dias!...
A lua silenciosa e indiferente continuava iluminando como um farol aquelas águas barrentas.
No dia seguinte nossa balsa desatracou e fomos embora com alguns quilos de ouro e eu, com essa lembrança inexplicável que irá comigo até meus últimos dias!...
PVH-RO, 19/11/14.