quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O ENIGMA DO TALISMÃ

O ENIGMA DO TALISMÃ

Samuel Castiel













                   Muitas pessoas acreditam piamente em talismãs.  Essa crendice atravessa os tempos desde épocas imemoriais.
                A palavra talismã provém da palavra árabe طلسم Tilasm, e também da palavra grega Teleo que significa "consagrar". Amuletos e talismãs são muitas vezes confundidos, porém enquanto o amuleto é um objeto com propriedades mágicas naturais, o talismã deve ser carregado com poderes mágicos pela pessoa que o cria. O ato de consagração ou "carga" é que dá ao talismã seus devidos poderes mágicos. O talismã é sempre feito por uma razão definida, enquanto um amuleto é usado de uma forma geral, tais como evitar o mal ou atrair boa sorte.[1] De acordo com a Ordem Hermética da Aurora Dourada, um talismã é "uma figura mágica carregada com a força que se destina a representar." Deve-se tomar muito cuidado durante a confecção de um talismã, pois as forças universais devem estar em harmonia exata com aquelas que deseja atrair, e quanto mais exato é o simbolismo, mais fácil será atrair a força.
                  Mas para Nivalda das Dores, mas conhecida por Dasdô, não interessava muito a etmologia da palavra talismã, nem muito menos a diferença entre amuletos e talismã. A verdade é que todas as suas   crenças em amuletos ou talismãs estavam abaladas e em franco descrédito. Tudo começou quando viajou para Aparecida do Norte, em São Paulo, numa peregrinação. Andando pelo  entorno da basílica, Dasdô deparou-se com uma estatueta de Santa Luzia, a protetora  dos olhos e da visão. Não exitou em compra-la. Em sua casa colocou a estatueta da Santa Luzia em um lugar de destaque. Afinal, aquela estatueta nada mais era do que um talismã vindo do Vaticano e, segundo o vendedor, fora benzido pelo próprio Papa. Os meses foram se passando e, sem perceber, a Dasdô viu-se perdidamente apaixonada por um cidadão  de meia idade, intelectual,  e com uma incrível força de superação pois conseguia fazer coisas incríveis e quase mesmo impossíveis para num cego. Dasdô em suas horas de meditação, pôs-se a pensar até que ponto aquele talismã da santa tinha ajudado a preservar a sua visão e seus olhos ou atraí-la para um amor arrebatador por um cego?  Viveu esse grande amor até que ele partiu desta para uma melhor!...Dasdô, por via das dúvidas, resolveu desfaze-se da “santinha”, doando-a para a igrejinha que frequentava aos domingos.
                 Passando férias em Salvador (BA) além do acarajé,  encheu o braço de fitas coloridas, amarradas em seus punhos e cada uma com um desejo específico, dos quais nenhum foi atendido. Apenas deixaram a Dasdô mais enfeitada e com um perfil de “riponga”. Mas, quando passou em uma daquelas ruelas do Pelourinho, deparou-se com outra estatueta intitulada de “monstrengo, o filósofo pensador”. Achou aquela peça interessante apesar da feiura e do aspecto disforme do personagem. Quando o vendedor falou-lhe que aquele amuleto atraía coisas boas a pessoa que o comprasse, inclusive um companheiro probo e de finos trato, resolveu compra-lo. Também passou a ter um local de destaque em sua mesinha de centro da sua casa. Ficou surpresa quando, meses depois começou a se relacionar com Alfredão, um cidadão realmente de fino trato, culto e educado. Sua decepção veio a cavalo, pois o Alfredão logo mostrou quem ele era: toda a educação e cultura eram só uma capa, onde se escondia um lobo vil, ambicioso, falso e também gigolô. Dasdô teve muito trabalho e despesas para se desvencilhar dessa figura que já representava seu quarto matrimônio.
                   Certa noite de sábado, sozinha em casa, abriu uma latinha de cerveja e ficou olhando para aquela peça do “monstrengo, o filósofo pensador”. Imediatamente, como num filme, vieram a sua mente as palavras daquele baiano que lhe vendera aquele amuleto. Esse deve ser um falso amuleto. Não em poderes nem força para atrair coisas boas. Foi até sua cozinha, pegou um martelo e triturou o “monstrengo, o filósofo pensador” jogando seus pedaços na lixeira.
                    Viajando a serviço pela Amazônia, Dasdô deu de cara com mais um amuleto ou talismã. Estava no Ver-O-Pêso, em Belém (PA), quando um caboclinho ofereceu-lhe um outro amuleto ou talismã, exposto numa das inúmeras barraquinhas que vendem ervas e talismãs milagrosos. Era um Gorila ou chipanzé em louça, segurando um cinzeiro. Como ela fumava, resolveu leva-lo, porém suas intenções eram outras, ou seja, queria encontrar um companheiro fiel e viver um grande amor!... Comprou e levou a peça toda envolta em plástico bolhado para não quebrar, pois segundo o caboclinho paraense, quando se quebra um talismã ou amuleto, seus efeitos e obras são contrários ao que se propõem.
                     No verão seguinte, já nem se lembrava mais do Chipanzé em cima de sua mesinha de centro, quando começou um outro relacionamento. Ficou intrigada por que dessa vez foi com um Negão grande! A princípio ficou com receio, pois era a primeira vez que iria ver a coisa preta!... Mas, enfim, queria e merecia viver um grande amor!...Programou uma viagem de carro vindo desde Recife até Porto Velho, em Rondônia. Durante a viagem foi muito divertido. Ele foi muito educado, um verdadeiro “gentleman”! Mas, quando a viagem terminou as coisas começaram a se deteriorar. O Negão revelou-se um dominador. Queria possuí-la como sua propriedade! E, as Dasdô nunca foi mulher para aceitar esse tipo de relação. Sem avisar, pegou suas malas, chamou um Uber e foi para o Hotel mis próximo. Dali dirigiu-se para o aeroporto e quebrou mais um talismã.
                     Dias depois, num momento de reflexão, ficou a pensar: esses amuletos e talismãs representam um verdadeiro engodo! As vezes conseguem seus propósitos mas não tem força para mantê-los. E, muitas vezes atraem coisas ruins!...Mas, afinal, nada é para sempre e a felicidade é muito fugaz... Quase se arrependeu de ter se desfeito de seus talismãs.

Nota do Autor: Qualquer semelhança com os personagens terá sido mera coincidência.



PVH-RO., 27/12/17